Tuesday, February 21, 2006

O Japão do Osny é assim...



O Osny Arashiro é jornalista, meu colega de trabalho - trabalhamos literalmente lado a lado - é brasileiro, descendente de japoneses, mora no Japão há muitos anos (uns 10, será?) e a idade dele é tão misteriosa quanto a da Glória Maria. A gente não tem a menor idéia...

Também queria dizer que não deu para publicar o Japão do Ewerthon (ele ainda deve mandar), mas a promoção Aluga-se um blog continua (leia post do dia 25 de janeiro). Aí vai o Japão do Osny e acho que nessa semana, o Meu Japão também vai apresentar o Japão do Emerson. A Fabíola também já se inscreveu, mas ainda não confirmamos a data. Quem mais se habilita?

O JAPÃO DO OSNY É ASSIM...

Chegou minha vez de mandar meu recado no "mural" do Blog da Karina. Sou o Osny Arashiro, o vizinho do lado dela. Mas acabei de ser transferido de Tokyo para Hamamatsu, a cidade que no início do movimento Dekassegui chegou a colocar faixas pedindo aos brasileiros "respeitem nosso país", e em algumas lojas anunciavam pelo microfone para todo mundo ouvir "atenção, chegou brasileiro". A gerência tinha medo de que os brasileiros saíssem sem pagar.

Vamos logo ao Meu Japão:
A variedade de cães de raça que existem no Japão foi uma das primeiras cenas do cotidiano que me chamou a atenção, logo que cheguei ao país. Interessante que o Japão é um país monorracial no tocante à gente. Mas em se tratando de cães, desfila uma variedade infinita de pedigree. Então, lembrei da leitura dos tempos de colégio do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Tem lá a cadelinha raquítica chamada Baleia. E no meu imaginário literário, via Baleia cheia de sarna, magricela. Assim foi que - não um cão, mas um gato de raça sem pelagem (o qual batizei de gato-tamborim) me trouxe a imagem mais fiel do que sempre imaginei que fosse a tal cadela Baleia.

Assim que vi o gato sem pêlos, logo pensei: coitado! Esse gato já nasce quase tamborim. É só curtir a couraça, pois já vem limpo, sem pêlos....he, he, he!!! Então juntei esse gato da raça Sphynx, com os cães de pedigree e meu cão vira-lata da infância. Costurei o texto como se fosse uma colcha de retalho, para sintetizar sob os olhos satíricos como observava o Japão em minhas primeiras impressões de quando aqui cheguei. Hoje já não vejo motivos para que os brasileiros sintam aquele complexo de vira-lata do qual o cronista Nelson Rodrigues se referia, toda vez que a seleção do Brasil enfrentava os europeus.

PAUSA PARA O FUTEBOL

Com licença de escrever um pouco sobre futebol, já que este é um ano de Copa do Mundo. Se ficar chato, é só virar o disco...

Pois em 1958, quando o Brasil conquistou a primeira Copa do Mundo, na Suécia, o complexo de vira-lata foi exterminado. E se o Rei Gustavo desceu da tribuna até o gramado para entregar a taça, então havia lá dois reis: o Gustavo e o Pelé.

Nelson Rodrigues ainda escreveu que o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 1950 porque os uruguaios jogando bola, nos trataram a ponta-pés como se vira-lata fôssemos. De 1950 a 1958 foram duas copas do mundo para o brasileiro perceber que mesmo um vira-lata pode se tranformar num dálmata.

Então o que estamos esperando, os outros é que devem nos invejar, he he, he!!! No bom sentido, pois hoje somos pentacampeões. E o melhor, conquistamos o penta aqui no Japão. E se não conquistarmos o hexa na Alemanha? Não tem problema, continuaremos sendo penta-vira-latas com muito pedigree para dar e vender...


BOB, MEU CÃO DO TERCEIRO MUNDO-CÃO

Lá vai o e-mail/crônica que passei para alguns amigos lá no Brasil em forma de sátira, como se fosse uma carta que escrevi para o meu pai que cuidava do meu vira-lata enquanto eu estava no Japão.

Chama-se Bob, meu cão do Terceiro Mundo-cão

Então velho! Este mail é para avisar o senhor que o melhor é esquecermos a idéia de mandar o Bob pra cá. Vou pedir pro senhor ter mais um pouco de paciência até eu voltar. Entendo que ele dá muito trabalho pro senhor aí no Brasil, mas também vai dar muito trabalho pra mim aqui. Aqui é sé hora-extra direto, não vou ter tempo de olhar o Bob.

Vou mostrar alguns choques caninus culturales que deixarão o Bob constrangido... e os japoneses também.

Em primeiro lugar, pro Bob tirar o passaporte, vão pedir o tal do koseki tohon pra comprovar seu vínculo com o Japão. Como? O Bob não tem descendência japonesa!!! O Bob é um simples caninus brasilianis, latino americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes, e vindo do interior... (opa! Onde foi que ouvi isso??)

O Bob não se sentiré bem na companhia dos cães de raça que existem por aqui. Cão de Primeiro Mundo é outra coisa, perfumadinho, bem vestido, penteadinho. A estátua mais famosa do Japão é daquele cão lá de Shibuya. E o garoto-prop... ou melhor, o cão-propaganda mais famoso aqui é um Chiwawa.

O Bob vai enfrentar dificuldades pra fazer amizades e se integrar na sociedade caninus japonicus. Aqui tem que ter pedigree, entende, velho? Depois, o Bob late diferente. Vai encontrar muito problema de comunicação. Sei que não vou conseguir servir de intérprete pro Bob...

A ração daqui também é meio adocicada. Acho que o Bob vai ficar desnutrido ou anêmico e juntando as pulgas que ele coleciona, vai ficar mais raquítico. E ainda com seu princípio de sarna, o senhor acha que vão aceitá-lo no ofuro (banheira) ou onsen (águas termais), que é coletivo. Tá difícil, velho...

O Bob tem mania de dar as patas. Não precisa nem pedir, Bob dá a patinha! Ele já vai logo dando a pata e colocando o focinho onde não deve. Para os padrões daqui, o Bob parece um ser indecente!! Aqui não se dão as mãos, muito menos as patas. Aqui o cumprimento é abaixar a cabeça. O Bob só abaixa a cabeça quando leva bronca. E ainda põe o rabo no meio das pernas. Não vai dar certo não.

Outra coisa velho! Aqui na hora do passeio, a gente tem que levar um saquinho plástico pra recolher aquilo que o Bob gosta de fazer atrás da moita ou nos postes. Aqui sujou... limpou! Vou andar com saquinho e pá na mão??? O que vou fazer com tanto esterco?? O Bob, um vira-lata, e eu, um vira-latrina! Num dá ne!!!

É! O Bob não vai se adaptar por aqui não. Se pra gente que somos gente, já é difícil entender coisas do Primeiro Mundo, imagina o Bob, meu pobre cão do Terceiro Mundo-cão. Guenta mais um pouco o Bob por aí...!!!!! Um abraço e PT SaudaCÃO!!!

8 comments:

Anonymous said...

Hahaha! Adorei Osny!!!
Gato tamborim? Coitadinho! Cade a Silvia para me ajudar a defender os gatos???
Boa sorte por ai e escreve mais por aqui!

Conheci um novo lado seu com esse texto.
Eu realmente adorei!

Karina Almeida said...

PARA OSNY

eu também fiquei impressionada com a foto do gato pelado. quer dizer, despelado.

e adorei a história do bob. realmente não deve ser fácil para um vira-lata conviver com cães de primeiro mundo. hehehe...

Anonymous said...

Osny, é uma obra de arte essa sua crônica sobre o Bob! Você não pode guardar essas coisas na gaveta, não. Põe na roda!

Anonymous said...

Ozny,
voce ja mudou para Hamamatsu???
que pena...
Nao vai voltar ao Toquio?
Hitomi

Juju said...

Osny, manda uma foto do Bob!

Anonymous said...

Osniii... mandou bem!! ; P Gostei muito da sua cronica!! Adorei o seu estilo. E essa sua ironia... arrasou!! Bjinhos

Juju said...

Arrasou, arrasou!

Anonymous said...

Karina, eu sei q este post é antigo (aliás, nem sei se vc está lendo estes meus comentários), mas se vc ainda tem contato com o seu amigo Osny, dê meus parabéns a ele! A crônica do cachorro Bob é um texto digno de estar num grande jornal.