
Não moro mais em Tokyo. Hoje, me mudei para Nagoya. É uma cidade grande, bonita, desenvolvida, cosmopolita. Mas não é Tokyo. É cedo para eu falar que não tem a energia, a magia e o encanto de Tokyo. É cedo para eu falar que a vida em Tokyo é melhor. Mas não é cedo para eu falar que vou sentir muita saudade de Tokyo.
Saudade daquele cruzamento de Shibuya, que sempre aparece nos filmes: um monte de japoneses atravessando a rua, numa faixa de pedestre diagonal (aliás, duas. Em forma de "x") e, nos quatro cantos do cruzamento, aqueles prédios com letreiros iluminados e coloridos e – o mais legal – aqueles telões (literalmente “ões”) não só com imagem, mas também com som.
Saudade de Roppongi, o bairro da badalação, o bairro dos estrangeiros: ingleses, franceses, americanos, canadenses, africanos, sul-americanos, australianos, árabes... acho que só não vi asiáticos lá. Nem japoneses!
Saudade de Shinbashi, o bairro dos “salarymen”, aparentemente sem graça, mas que é onde fica o “bar-colírio”, o meu preferido. E o da Angelica também. E o de muitas outras mulheres também, eu sei. Já contei que neste bar todo o “staff” é de modelos (japoneses e um americano). Eles são lindos, simpáticos e uma ótima motivação para estudar japonês (ou inglês, no caso das fãs do americano).
Saudade das pessoas sempre apressadas, que não têm tempo nem para ficarem paradas na escada rolante. Os poucos que têm esse privilégio ficam no cantinho da esquerda para não atrapalharem o trânsito dos demais. Esperar o próximo trem (que, geralmente, demora 3 minutos), não dá!
Saudade até dos bêbados, com aquele cheiro de saquê e a cara vermelha de tanto beber, caindo pra cá e pra lá, no trem lotado depois das 11 horas da noite.
Saudade dos amigos brasileiros, japoneses, europeus, australianos, americanos, peruanos, colombianos, bolivianos, chineses, coreanos, que moram em Tokyo. Como eu morava.
Saudade da Yamanote, a linha de trem mais famosa de Tokyo, que circula a região central. Pára em Shibuya, Shinjuku, Shinbashi, Ueno, Harajuku, Shinagawa e em todos aqueles bairros famosos que estão nos guias de viagem.
Saudade, saudade, saudade! E tristeza de deixar de ser uma cidadã de Tokyo. Eu sempre disse que o olhar do turista não é tão legal quanto o olhar do forasteiro, aquele que se mudou para ali. E, agora, não sou mais uma forasteira. Vez ou outra, serei turista.
Forasteira, agora, só em Nagoya. E assim que essa dorzinha de saudade de Tokyo passar, vou tomar as providências para um dia também sentir essa dorzinha de saudade daqui.
FOTO: eu, a Angelica e parte do staff-colírio, na minha última (como forasteira) balada em Tokyo.