
Não estou usando o nome do meu escritor predileto em vão. Deus me livre! É que fiquei toda feliz, hoje, porque o
Purgatório chegou às minhas mãos.
Daí troquei a
Contigo, a
Época e a
Veja - minhas fiéis companheiras de trem - pelo Mario Prata.
Difícil era segurar o riso, em pleno vagão lotado. "A gringa é maluca. Tá rindo sozinha" era o texto do balãozinho que eu imaginava na cabeça dos japoneses.
Sou maluca, não! E me diverti, outro dia, vendo uma adolescente rindo sozinha em outro trem. Aliás, sozinha não. Ela estava com um mangá.
Adorei herdar mais essa mania japonesa. Não sei o que será de mim quando eu voltar para Beagá (leia Belo Horizonte, minha cidade natal).
Adoro ler no trem. Ônibus dá enjôo!Além da viagem de 50 minutos parecer de apenas 5, a gente faz até amizades! Eu fiz. Conheci o Taku, assim. E já bati papo com um indiano e um francês por causa de uma revista (
Istoé), no primeiro caso, e de um livro (da escola de japonês), no segundo.
O Taku virou meu amigo por causa da
Nova. Lá estava eu lendo a minha revista, de pé, quando reparei que aquele adolescente japonês sentado a minha frente não parava de olhar para mim e para a minha revista.
Na hora pensei: "ele deve achar que estou lendo a
Playboy".
Resolvi virar a página para
esconder a capa mais que ousada. Não adiantou. O menino continuava olhando. Fui ficando desconsertada, até que ele tomou coragem e me perguntou: "você é brasileira?"
"Sou! Você também?" Não, ele é japonês mesmo. Mas fala português porque morou um ano no Brasil. Foi jogar futebol. Queria ser o próximo Ronaldinho. Não parava de olhar para a revista porque queria checar se era português que eu estava lendo. Acertou. E ficou todo feliz.
Trocamos emails, telefone. Ficamos amigos. Prometi até apresentar uma brasileira mais apropriada para namorar com ele. "Você é muito novinho", expliquei. Eu já estava beirando os 30 e o menino japonês que sonha não só com o futebol mas também com uma namorada do Brasil tinha apenas 16!
Meu precioso tempo no trem serve, ainda, para estudar japonês. Ou inglês. E quando esqueço de carregar a revista ou o livro, fico louca e não paro de fuçar o celular até chegar a minha estação. Mando email pra Deus e o mundo e só não faço ligação porque é proibido.
Os japoneses também são assim. Muito mais inquietos, por sinal.
Não vejo ninguém olhando para o teto. Todo dia pego trem. Pra lá e pra cá. E todo dia vejo que os meus colegas de vagão estão lendo, fuçando o celular - muitas vezes, vendo TV -, jogando videogame (PlayStation Portátil por aqui é comum. O concorrente DS também) ou dormindo.
Só não vale perder tempo!
Oops, já ia me esquecendo dos efeitos colaterais. Entrei no trem errado, uma vez, porque na plataforma me distraí com a Palavra-cruzada. m(_ _)m