Tuesday, May 09, 2006
Propaganda de mim mesma
A Lucila me ligou:
_ Essa Karina no livro do Mario (sem acento mesmo) Prata é você?
_ Sim, respondi toda orgulhosa (apesar do título comprometedor: Minhas Mulheres e Meus Homens)
Pois é, fui parar nesse livro do Mario Prata, meu escritor/cronista preferido. Essa história é antiga (de 1999/2000), mas sempre vem à tona. A Lucila não foi a primeira - e espero que não seja a última - a me fazer essa pergunta.
E não virei só personagem de livro não. Também fui parar numa crônica, publicada no Estadão. Quase caí dura quando abri o jornal e lá estava escrito "Karina de Belô", ou seja, eu!
Querem ler? (espero que sim!) Aí vai a crônica:
Karina de Belô
o estado de s. paulo
31/03/99
Aquelas doidas e maravilhosas adolescentes, que fizeram uma home page minha, com a maior intimidade colocaram lá, no mês passado: o Pratinha faz aniversário este mês. Clique aqui para mandar parabéns para ele.
Vários desocupados e desocupadas clicaram e a Manuela me mandou as mensagens. Respondi a todas, agradecendo o carinho e o etecétera.
Mas foi aí que surgiu a Karina. Me respondeu dizendo que as colegas dela na faculdade de jornalismo não acreditaram que eu tivesse escrito para ela: "Imagine se o Mario Prata ia escrever para você!" Será que as colegas dela acham que eu não sei escrever?
E mais, dizia a Karina: estava fazendo um trabalho sobre cronistas, centrado em mim e queria saber qual a maneira que eu poderia ajudá-la.
Uma entrevista, uma palestra lá?
Respondi que estava havendo um pequeno engano. Meu nome era Mario Prata, mas eu não era o escritor. Era até parente. Sou dentista aposentado, fui logo informando. Mas, para sair do marasmo que era a minha vida, agradecia o convite para palestrar e poderia ir até Belô fazer uma palestra sobre molares aninos (que nascem no ânus). Disse ainda que tinha slides e precisava de uma cadeira de rodas para me pegar no Aeroporto da Pampulha, pois era paraplégico. E mais, informei: era solteirão e virgem, promessa feita no leito de morte da minha mãe, jurando de joelhos juntos que só me casaria com moça mineira, cujo nome começasse com K. Mamãe, em vida, foi apaixonada pelo Kubitschek.
A Karina adorou a idéia da palestra sobre os molares aninos. Achei meio esquisito tal atitude. Foi quando eu parei e achei que estava indo longe demais. E o pior: na última carta, ela pedia para eu parar de chamá-la de menina, porque, o fato de ela estudar jornalismo não significava que era uma jovenzinha.
Muito pelo contrário. E me contou a sua vida. Tinha 67 anos, viúva, filhos criados, resolveu estudar. Fez bem, pensei: escreve certo como gente grande, dominando as vírgulas e as respirações como uma Clarice Lispector. Parei de novo. Percebi que a dona Karina estava se empolgando com o doutor Mario, dentista. Essa coroa vai pegar no meu (dele) pé, pensei. E agora?
Mandei mais uma, que começava assim: "Agora sei por que o meu marido, o Mario, não queria que eu aprendesse computação. Era para não descobrir essas sem vergonhices dele" e, como esposa de mim mesmo, arrasava com a dona Karina.
Ela mandou outra carta para o dentista dizendo estar decepcionada com o fato de eu mentir sobre minha condição de solteiro, virgem e paraplégico. Estava decepcionada comigo. Ela, que estava até pensando em fazer um acróstico do dentista solitário.
Foi a vez de uma das minhas (do dentista) sete filhas, a Magdala, entrar na história e comunicar à mineira que ela era a causa da discórdia, da lascívia e do cabritismo que se instaurara (Magdala estuda Letras na PUC) no nosso lar, desde que ela "a escroque rampeira das Alterosas" havia surgido. Que, pelo amor de Deus, deixasse a nossa família em paz, no aconchego do até então feliz lar.
O bate-boca continuou até que a minha mulher tentou o suicídio e as minhas filhas estavam dispostas a ir até Belo Horizonte matar a dona Karina. Mas parece que a viúva não se tocava e estava mesmo a fim de mim - dentista, paraplégico ou não, virgem ou pai de sete filhas.
E eu - dentista, especialista em molares aninos, devo confessar, comecei a gostar da viúva, futura colega do primo Mario jornalista.
Foi quando ela mandou um último e definitivo e-mail: "Mario (escritor): obrigada por ter me ajudado. Fizemos (eu e você) um trabalho maravilhoso. Ficou bem melhor do que eu poderia imaginar.
Tenho 21 anos e estou mandando uma foto minha."
Meu Deus! A foto da viúva de 21 anos! Me desejando, num balão de história em quadrinhos, feliz Páscoa.
E eu fico por aqui, completamente apaixonado. Não sei se é o dentista pela viúva ou o escritor pela futura jornalista. Sei que um de nós convidou-a para passar a Páscoa com ele.
É, Karina, quando baixa um dentista aposentado e apaixonado dentro da gente, querendo mostrar slides de molares aninos, deve significar que o cronista anda sozinho, muito sozinho, sentado numa cadeira de rodas, ouvindo Elvis Presley e Arnaldo Antunes na mesma faixa, como se fosse um adolescente com dor de dentes.
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10 comments:
Que bonitinhaaa. Beijos, dona Karina.
fantastico!!!
Dona Karina de Belo,
Ainda nao descobri o seu segredo. Seria fonte da juventude? Camara de oxigenio? Cobaia de Sociedade Secreta de Super-Cirurgioes- Plasticos? Afinal, chegar aos 74 anos nessa excelente forma fisica eh de deixar qualquer um estupefato!!! Ja ouvi japones se gabando q agora eles eh que tem "belo horizonte", pode? Por mto menos os EUA declararam guerra ao Iraque...
E, como se nao bastasse, ha essa sua inteligencia arejada por humor e humildade... Nao devem ter sido poucos os homens q terminaram com dor de dentes por sua causa: talvez eles tenham os rangido demais por medo de nao corresponderem as expectativas de uma senhora tao cheia de vida e charme!
Portanto, amiga. PARABENS! Desejo um aniversario maravilhoso no bar-colirio. Olha, mas cuidado na dosagem! Nao eh pq vc tem esse exagero de saude q pode exagerar na auto-medicacao. Colirio em excesso leva a cegueira e pode impedir "a senhora" de ver seu principe encantado. Ou de se divertir com sapos divertidos. :P
Grande beijo do amigo,
Jim.
Karina, seu blog subiu de classificação. Não sei se vc percebeu no meu blog tem os link de outros blogs classificados em "Recomendados" e "Nem tanto", agora só o "Ploc" do seu chefe tà là embaixo.
Nessa semana saiu um "articulo" meu no espanhol sobre "La Marinera".
Eu ainda náo escrevo direto na lìngua de Cervantes, mas graças ao Lucho que consegue entender espangues (espanhol aportuguesado, ou português espanholado) o jornal em espanhol tem um "corresponsal" em Hamamatsu
PARA NAOMI
vc ja conhecia a historia, ne? alias, acompanhou em tempo real. naquela saudosa epoca da faculdade!
PARA ANONIMO e ESTELA
qu bom que gostaram da cronica? aproveitem o embalo para ler mais textos fantasticos e sensacionais do mario prata. sao muitos!
PARA ANONIMO (JIM)
nossa, assim os leitores vao pensar que sou a gisele bundchen com a inteligencia do eistein...
nao elogia tanto assim que vou acreditar e ficar (mais) metida!
e obrigada pelos parabens!!! pode ficar tranquilo que o colirio foi na dosagem certa, quase perfeita, eu diria.
PARA J.COMESSU
nossa que chique! nem tinha percebido que meu blog estava la... obrigada!
e obrigada tambem pela classificacao. mas foi por mim ou pelo mario prata??
bjos PARA TODOS : )
oi karina,
adorei seu blog, saiba que estou aki sempre torcendo por você.
é um orgulho mt grande ter vc como irmã...
te amo, linda!!!
seus sobrinhos estão aki te mandando um bjão..
Karina, sabe Os Anjos de Badaro?
A Dra Bia que ta la no inicio sou eu.
Tb sou fa do Mario e ja conhecia essa cronica, so nao sabia que era voce. Adorei!
Mil beijos.
PARA JULIANA
você no meu blog? que máximo! não vai sumir, viu?!
bjos. karina : )
PARA BIA
nossa, que lega! não sabia! eu li "os anjos de badaró" e agora quero reler a sua parte! depois te conto.
bjinhos : )
uauau
Que história e que aventura literária.
Amei !
Ká, você arrasa !
Já sou sua fã !
Patipetista/SBC/SP/Brasil
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