

O Caruso é um carioca "maneiríssimo", meu amigo, professor de japonês pra toda hora e colega de trabalho. Ele é formado em Letras (desculpa, mas quem é formado em Letras é o que mesmo?), tem 30 anos (agora todo mundo já sabe!), veio parar no Japão por causa da língua e não quis mais voltar para o Brasil por causa de uma japonesa "maneiríssima" chamada Tomoe. Eles estão grávidos e as apostas estão rolando soltas pra saber se o bebê vai ter olhos azuis ou olhos puxados. Ou os dois.
Chega de apresentação. O Caruso escreveu sobre um tema que eu queria muito escrever: o "dekasseguês", ou seja, a linguagem que só o trabalhador brasileiro no Japão entende. É a mistura de japonês com português, também conhecida como "nihonguês" (nihongo - leia niRRongo - com português).
Ele ficou preocupado: "será que vão ficar chateados comigo?". Acho que não, Caruso. Vale a pena chamar atenção pra esse comportamento que não ajuda em nada. Só faz a gente esquecer o português e não aprender bem o japonês. Depois de ler o seu Japão, vou me policiar ainda mais (eu já tento fazer isso) pra não falar "konbini", nem "meishi".
Enfim, aí está o
Japão do Caruso é assim...VAMOS PRESERVAR A NOSSA LÍNGUA!Interessante que por mais tempo que a gente viva no
Japão, a gente sempre vê, descobre, vivencia algo diferente. São
ideogramas por todo lado (claro!), organização, respeito, limpeza... Isso sem falar das
máquinas de venda de bebidas quentes e geladas, espalhadas em toda parte e das
lojas de conveniência, que são realmente muito
práticas. Também não são raras as vezes em que pensamos “ah se fosse no Brasil....”.
Mas calma! Nem tudo são flores.... E para quem não sabe, aqui também tem gente grossa, mal-educada (no
trem ou
metrô, principalmente), bêbados, velhos gagás, malucos a solta,
tarados que molestam moças nos trens ou em parques etc. Isso sem falar nos
tufões e
terremotos da vida. Mas onde no mundo não há defeitos, não é?
Tudo bem, acho importante sempre enxergar nas diferenças aquilo que é
interessante de ambos os países, e deixar de tentar definir onde é melhor.
Quando não estou
atarefado na
empresa ou fazendo
hora extra, saio mais cedo e, só de andar pelas ruas daqui e observar as coisas, prédios e pessoas, eu me divirto. A gente vê cada peça rara, passa por cada uma... Eu, como não sou
descendente de japoneses, e sim de italiano e português, sou tratado muitas vezes como americano mesmo. Quando fui ao interior, me senti o próprio
artista de TV! As crianças são as que menos disfarçam. Uma chegou a me perguntar como eu havia colorido meu olho de verde....
bonitinho, nao?
Apesar de eu falar um pouco de
japonês, alguns
japoneses custam a acreditar e insistem em falar em inglês comigo. Um dia estava no
supermercado, na seção de
sucos, e na minha frente, um
“tio” japonês, com pinta de
presidente de empresa ou
gerente, sei lá, estava com uma
marmita em uma das mãos, e a outra livre, parecia estar procurando a carteira nos bolsos do
casaco. Quando finalmente achou, e tirou a carteira do bolso, veio junto um
postal, o
passe do trem e uma moeda de
100 ienes e ficou tudo espalhado no chão. Eu me abaixei para ajudar a catar tudo e ele disse “Desculpe....” em japonês. Pensei: “Até que enfim!”. Mas quando me levantei e ele mirou nos meus olhos, o “obrigado” foi um inglês mesmo!!
Já cheguei a desconcertar um outro japonês em uma
boate, quando ele se apresentou em inglês, me entregando o seu
cartão de visita. Eu disse a ele: “Desculpe, eu não falo inglês...”. Já chegaram ao cúmulo de, no hospital, quando entreguei minha carteirinha do
plano de saúde e depois de eu ter dito em japonês claro que queria uma consulta com o der-ma-to-lo-gis-ta, me aparece uma japonesa como
intérprete de inglês do lado de fora do balcão, bem do meu lado!!!! E eu nem disse de que país eu era!!! Aí pensei: “
Não tem jeito, vou assumir o papel de
gringo mesmo!” Conclusão, tudo que ela falava com as pessoas em japonês, eu entendia, e ela, coitadinha, bem intencionada, me traduzia tudo de novo.
Quando fui comprar meu
celular também, o vendedor me pediu a
carteira de registro de estrangeiro e logo me disse: “esse modelo você não pode levar porque não é bilíngue”. É mole?! Um cara desses merecia ser
despedido! (Tudo bem, nem tanto...)
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Agora, responda: Quantas palavras em japonês você localizou no texto? Muito bem! O texto pode não ser nenhuma “Brastemp”, mas era só para mostrar que é per-fei-ta-men-te possível contar algo em português puro!! Por que será então que algumas pessoas, mesmo as brasileiras natas, insistem em usar palavras japonesas em lugar de palavras que já existem na língua portuguesa? Claro que há, muitas vezes, expressões ou palavras cuja tradução faz perder um pouco do sentido original, mas tem gente que simplesmente ignora a palavra em português e usa em japonês!
OK! Confesso que eu mesmo, muitas vezes, falo “konbini” e “nikkei”, devido a praticidade destas palavras em relação às correlatas “loja de conveniência” e “descendente de japonês”. Mas acho importante saber que palavras como “nikkei” e “konbini” são exemplos de estrangeirismo. Assim como “danchi” (para conjunto habitacional!!!) também é! Tudo bem que “conjunto habitacional” é grande também, em relação a “danchi”, mas no Brasil, a mesma palavra é usada normalmente, sem exigir nenhum esforço sobrenatural de ninguém para pronunciá-la. Sem contar que algumas são extremamente DESnecessárias: “eki” em lugar de “estação”ou “keitai” em lugar de “celular"... Pra que?!
Além do mais, por mais que a influência ao redor seja forte, é preciso ter em mente, que muitas das vezes, o ouvinte não sabe (e muitas das vezes, não tem a menor obrigação de saber) japonês. (bom, é verdade que as vezes, nem o falante sabe...)
Moral da história, não se fala nem em português direito e nem em japonês por completo. A questão não é ser contra quem usa, mas se já tem a palavra em português para que usar em japonês???? Vamos preservar o nosso idioma!!! Estou pedindo... oneg... ops... Por Favor!!!
Para lembrar então:
É Japão, e não NIHON(日本).
É ideograma, e não KANJI (漢字)
É máquina de venda de bebida, e não JIDOOHANBAIKI (自動販売機)
É loja de conveniência, e não KONBINI (コンビ二)
É prática, e não BENRI (便利)
É trem, e não DENSHA (電車)
É metrô, e não CHIKATETSU (地下鉄)
É tarado, e não CHIKAN (痴漢)
É tufão, e não TAIFUU (台風)
É terremoto, e não JISHIN (地震)
É Tudo bem, e não DAIJJOOBU (大丈夫)
É interessante, e não OMOSHIROI (面白い)
É atarefado, e não ISOGASHII (忙しい)
É empresa, e não KAISHA (会社)
É hora extra, e não ZANGYOO (残業)
É descendente de japoneses, e não NIKKEI (日系)
É artista (de TV) , e não TARENTO (タレント)
É bonitinho, e não KAWAII (可愛い)
É japonês, e não NIHONJIN (日本人)
É supermercado, e não SUUPAA (スーパー)
É suco, e não JUUSU (ジュース)
É “tio” , e não OJISAN (おじさん)
É presidente de empresa, e não SHACHOO (社長)
É gerente, e não MANEEJAA (マネージャー)
É marmita, e não BENTOO (弁当)
É casaco, e não KOOTO (コート)
É postal, e não HAGAKI (ハガキ)
É passe do trem, e não TEIKI(KEN) (定期券)
É 100 ienes , e não HYAKU EN(百円)
É “obrigado” , e não ARIGATOO(ありがとう)
É boate, e não DISUKO(ディスコ)
É cartão de visita, e não MEISHI(名刺)
É “Desculpe” , e não GOMEN (ごめん)
É plano de saúde , e não (KENKOO) HOKEN(健康)保険
É intérprete , e não TSUUYAKU(通訳)
É “Não tem jeito, e não SHIKATANAI (仕方ない)
É gringo , e não GAIJIN(外人)
É celular, e não KEITAI (携帯)電話
É carteira de registro de estrangeiro, e não GAIJINTOOROKU(外人登録)
É despedido, e não KUBI(首)