

Não, dessa vez, não
infringi a lei não. Fui parar na prisão sim, mas não como presidiária. Essa história é meio velha (dois ou três meses atrás), mas depois de ler a
Veja dessa semana (pra vocês aí do Brasil é da semana passada. É que recebemos com um pouquinho de atraso aqui...) deu vontade de contar.
"Isso é um hotel?”, perguntou uma repórter do Brasil, quando estávamos em frente à Penitenciária de Yokohama. “Não. Esse é o presídio que vamos visitar”, respondi. E ela não cometeu nenhuma barbaridade ao fazer essa pergunta. O presídio é tão chique e tão bonito, que mais parece um hotel (cinco estrelas!).
Fomos acompanhar a visita de uns políticos brasileiros (senador, deputados e cia) e, assim como eles, ficamos de queixo caído. Aquela cena de um monte de homem sem camisa, embolado atrás das grades é inimaginável aqui. Os presos vestem uniforme. Em Yokohama, estavam todos de calça e camisa azuis (ou amarelas??), boné branco e tênis (não sei que cor). Todos iguaizinhos, arrumadinhos e (aparentemente) limpinhos.
Dentro dessa penitenciária tem uma gráfica, uma marcenaria e uma lavanderia, entre outras coisas do tipo (já esqueci!). E são os presos que trabalham lá. Se por fora parece um hotel, por dentro, parece a linha de produção de uma fábrica. Tem ainda um pátio, onde eles praticam atividades físicas e, perto desse pátio, tem um jardim japonês que fez o nosso queixo cair mais ainda.
E as celas? Gente, não dá para acreditar! Tudo bonitinho, organizadinho e confortável também. As “celas” individuais têm uma cama, um vaso sanitário (ocidental, o que é uma regalia aqui), uma estante (com alguns exemplares de mangá!) e um aparelho de tevê. As “celas” coletivas têm as mesmas coisas, porém com espaço e
futon (“cama” dos japoneses que, na verdade, é uma espécie de colchonete) para seis pessoas. Ah, o diretor disse que estavam “superlotadas” com oito pessoas, por isso, eles colocaram uma beliche em cada.
Mas esse conforto todo tem um preço: os “hóspedes” são tratados com tanta disciplina, tanta disciplina, que já ouvi dizer que saem de lá, loucos. Especialmente os ocidentais, que não sabem o que é disciplina, muito menos a disciplina japonesa. Eles têm hora para tudo – acordar, comer, trabalhar, estudar, assistir à tevê, dormir etc – e não têm direito de conversar (só na hora certa), muito menos em outra língua (lá, só se fala em japonês).
Para evitar que os (muitos) estrangeiros se enturmem, nas celas coletivas as nacionalidades também são coletivas. Brasileiro com brasileiro, nem pensar. Os visitantes só podem conversar com os “anfitriões” em japonês. Quem não fala a língua, melhor nem tentar ir lá. Uma palavrinha em português, chinês, espanhol é motivo para encerrar a visita.
De saída e com o queixo praticamente no chão - logo depois de ver o auditório onde tem concurso de karaokê - o senador ousou perguntar ao diretor da penitenciária: “já houve tentativa de fuga aqui (ele não seria maluco de perguntar se já houve fuga)?”. Com um sorrisinho, o diretor respondeu: “nunca ouvi falar em tentativa de fuga aqui e em nenhum outro canto do Japão”.
É, Seu Marcola, é pra cá que o senhor e os seus amiguinhos do PCC deveriam vir.